segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Destino

Em sua cidade natal, Paudalho (PE), ele era rei. Melhor, tratava-se do príncipe de Capibaribe (nome do rio que corta a cidade). O apelido foi dado por um antigo locutor esportivo ao ver o garoto atuar no campeonato sub-15. Seu José era a maior autoridade futebolística da região. O velho dizia aos quatro cantos que havia visto o Brasil levantar o caneco mundial na primeira oportunidade, em 1958. Daí veio a ligação para o apelido do garoto. Didi, um dos meio campistas mais talentosos do futebol brasileiro, recebeu do jornalista Nelson Rodrigues a alcunha de Príncipe Etíope. Atento, José constatou que a elegância com que o moleque jogava lembrava a classe do atleta da seleção brasileira, por isso a homenagem.

O garoto era o quinto de uma família de sete filhos. Seu pai era pedreiro e a mãe, dona de casa. Muito pobre, o moleque não vislumbrava ter os carrões e a vida de popstar dos boleiros de hoje em dia. Consciente, ele apenas queria livrar-se da pobreza em que encontrava. O cardápio do café-da-manhã, almoço e jantar, por exemplo, era sempre o mesmo: feijão com farinha, isso quando ainda havia o que comer.

Não demorou e ele ganhou uma oportunidade em uma grande equipe do futebol nacional, o Vasco do Gama - por sinal, seu clube de coração. Logo no primeiro treino com os juniores, fez um gol e deu duas assistências para a vitória dos reservas sobre os titulares, 4 a 2. Já com o pernambucano entre os 11, aquele time amador do Vasco ganhou tudo o que disputou, do Campeonato Carioca à Taça São Paulo. E o Príncipe do Capibaribe, claro, foi o destaque em todos os torneios.

Os deuses do futebol, no entanto, não reservaram um futuro próspero dentro das quatro linhas ao garoto. No ano seguinte, ao fazer alguns exames médicos de praxe, os cardiologistas descobriram que ele tinha um problema no coração. Um mês depois, a diretoria avisou que os seus serviços não interessavam mais a equipe. Procurou, em vão, outros clubes. Chorou bastante durante seus últimos dias no Rio. Pegou o primeiro ônibus para Pernambuco e esqueceu o futebol.