domingo, 23 de janeiro de 2011

Mais um deles

Seu nome era Antônio Aparecido - e sempre fez jus ao sobrenome. Quando garoto, era a atração naqueles felizes encontros de família. Na jovialidade, foi fundador e presidente da União pelo Esporte (UPE), uma associação de âmbito nacional que buscava maior investimento público para o esporte de baixo rendimento. Acreditava que poderia mudar o mundo pelo esporte. Tratava-se de um idealista.

Com sua atuação na UPE, ganhou destaque nacional, alcançando, anos depois, uma vaga na Câmara dos Deputados. Ficou pouco tempo. Voltou a dedicar seus dias a verdadeira paixão: o esporte. Com muito empenho, trabalho sério e uma dose de sorte, galgou até o cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Tinha interessantes planos na cabeça. Pensou em modernizar o calendário, adaptando-o ao europeu. Pensou em valorizar às series B, C e D, investindo mais dinheiro da própria instituição. Pensou que poderia transformar o futebol brasileiro em um produto mais atrativo... Mas só pensou. Esperto, percebeu que sua ousadia não era condizente com a posição cômoda dos velhos senhores feudais que estavam à frente das federações estaduais e de cargos importantes dentro da CBF.

Conhecia o mundo, sabia o quanto era perigoso cutucar uma alcateia de lobos com um cabo de vassoura. Por isso, não tomou nenhuma medida estarrecedora em seus primeiros meses de mandato. Para agir, procurou conhecê-los melhor. Almoçou, jantou, passou o final de semana e até o Natal com os “homens do esporte”. Descobriu, além de todas as falcatruas, que aqueles velhos inescrupulosos também eram boas pessoas: atenciosos, amorosos, preocupados com os filhos e netos, extremamente religiosos e caridosos. Sua mulher virou a melhor amiga das mulheres deles. Sua filha começou a namorar o filho de um deles. Ela, repentinamente, engravidou e casou. Tudo pareceu passar tão rápido quanto um piscar de olhos.

Aparecido já estava mais ligado a eles do que gostaria. Acabou se perdendo nesse novo mundo. As antigas amizades do tempo da UPE foram esquecidas, assim como os interessantes planos para o futebol brasileiro. As medidas estarrecedoras não vieram no primeiro mandato nem nos sete posteriores à frente da CBF. Pior do que ser amigo deles, Aparecido tornou-se mais um deles.