quinta-feira, 23 de julho de 2009

Êxodo das chuteiras

Imagem de Baku, capital do Azerbaijão. Pra lá, este ano, foram transferido dois jogadores de futebol do Brasil. A realidade do futebol nem sempre é rosa

O Brasil está a cada dia mais diversificando seus produtos de exportação e também seus parceiros comerciais. No passado, o país tropical foi monocultor da cana-de-açúcar, durante boa parte dos séculos XVI e XVII, e de café, que foi a base da economia do segundo reinado. Nos dias atuais, temos uma série de produtos que são vendidos a outros países, entre eles estão os equipamentos de transporte, minério de ferro, soja, calçados, café, automóveis, peças automotivas e recentemente, a partir da década de 1980, o jogador de futebol, que se valorizou com as conquistas da seleção brasileira, conseqüentemente, ganhou o mundo e o selo de MADE IN BRAZIL se tornou garantia de qualidade.

Segundo dados da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), desde 2003, quando começou o Campeonato Brasileiro por pontos corridos, foram negociados para fora do país 6162 jogadores. Número esse maior do que a população de muitos municípios brasileiros, por exemplo.

Essa massiva saída de atletas gera sérios problemas para o futebol nacional. A mais obvia é o enfraquecimento dos clubes brasileiros. Além disso, como os jogadores são vendidos cada vez mais jovens, eles acabam por não criar uma identificação com o seu país e muito menos com a seleção brasileira. A reposição desse jogador que saiu deve vir, na maioria das vezes, da base. Então, o garoto que chega, com, por exemplo, 17 anos, já tem na cabeça o que quer: fazer história. Mas não aqui, não no Corinthians ou no Grêmio e sim no Real Madrid e no Milan. Isto causa perda da importância das nossas agremiações. Nossas crianças sonham em ser campeãs da Liga dos Campeões e nem se lembram mais dos torneios nacionais. Como disse Luxemburgo, o clube brasileiro passou a ser uma barriga de aluguel, que gesta o jogador por nove meses, ou nem isso, depois o dá para sua mãe, o clube europeu.

Ao observar a lista das transferências internacionais deste ano, notei um fato curioso: o segundo maior destino dos nossos profissionais do futebol é o Vietnã, com 34 atletas vendidos. O principal ponto de parada é o nosso antigo colonizador, Portugal, com 54 jogadores.

Além de tudo, o jogador brasileiro é um desbravador. Ele vai para os rincões mais longínquos, para os lugares mais exóticos do planeta como a Namíbia, um país pobre da África onde 15% da população é considerado soro positivo; Azerbaijão, um dos muitos países que terminam com ão e que se localiza na divisa da Europa com a Ásia, o desafio de morar lá é aprender a falar o azeri, língua oficial do país; e a Indonésia, lugar onde a natureza é exuberante, mas que seu vizinho tem grandes chances ser um homem-bomba.

Este ano, ‘apenas’ 531 craques das chuteiras partiram das terras verde-amarela. Porém, a janela de verão (levando em conta a estação européia) ainda está aberta e devemos ver esse número saltar para a casa do milhar, mesmo com toda a crise econômica que estamos vivendo. Então, boa sorte aos nossos desbravadores.

Se você quiser saber mais sobre as transferências internacionais envolvendo jogadores brasileiros que atuam no Brasil, acesse:
http://www.cbf.com.br/php/transferencias.php.

Foto: http://www.cia.gov/