terça-feira, 23 de junho de 2009

Considerações sobre a seleção brasileira

A história poderá ser a mesma de 2005: a seleção ganha a Copa das Confederações, batendo grandes rivais - a Argentina e Alemanha de ontem, deverão ser a Itália e Espanha de hoje –, e os defeitos acabam sendo encobertos pelo título.

A vitória brasileira sobre a Itália era mais do que previsível. Com um elenco envelhecido, sem nenhum grande craque e com dois postes no ataque (Luca Toni e Iaquinta), a Azzurra demonstrou, ainda na primeira fase da competição, uma fragilidade assustadora. A zaga, embora seja o setor mais eficiente da equipe, não conta com a mesma segurança da Copa de 2006; o meio de campo não consegue criar jogadas ofensivas e o ataque, por sua vez, é formado por jogadores de pouca habilidade e que não têm participação ativa nos jogos. Com a decadência da equipe italiana, os torcedores mais antigos lembram de outro vexame, o da Copa de 1966 - e a Coréia do Norte, a protagonista dessa vergonha, já carimbou seu passaporte para a África do Sul.

Claro que o Brasil teve seus méritos. Ninguém massacra a tetra campeã mundial sem ter destaques. Luiz Fabiano está provando que é mesmo o novo camisa 9. Júlio César é unanimidade. Felipe Mello assumiu, com muita personalidade, a vaga de volante. E Dunga que, mesmo com escolhas muito duvidosas, institucionalizou o profissionalismo na seleção. Agora, para vestir a amarelinha, o currículo não tem peso tão grande quanto tinha com o técnico anterior.

Mas os erros ainda estão evidentes. Gilberto Silva está em franca decadência, saiu de um dos principais clubes do mundo, o Arsenal, e foi parar na Grécia. Sua lentidão é de impressionar, e ela prejudica o poder de marcação e a consistência do meio de campo. A lateral esquerda continua sem dono. Kléber e André Santos não convencem. Fábio Aurélio, lateral incontestável num dos maiores clubes do mundo, o Liverpool, só será convocado se Dunga mudar seus conceitos. Atuando com três volantes, apesar de Ramires jogar mais avançado, a criatividade da equipe fica concentrada nos pés de Kaká. Se lembrarmos as partidas das Eliminatórias da Copa contra Colômbia e Bolívia, times que atuaram fechados, o problema da criação de jogadas ficou evidente. Caso aconteça uma lesão com o meio campista madrileno, quem irá substituí-lo? No grupo de hoje, não encontramos nenhum jogador com características similares.

A Espanha será o grande teste para o Brasil. Uma possível vitória poderá, mais uma vez, esconder os pontos falhos da equipe e, acima de tudo, coroar o esquema com três volantes. A derrota, contraditoriamente, seria mais vantajosa. Ao não conquistar o caneco, o técnico provavelmente revisará seus conceitos para a Copa do Mundo.