sábado, 21 de fevereiro de 2009

Se Deus é brasileiro, só saberemos no dia 2 de outubro

No primeiro artigo deste blog gostaria de abordar um assunto leve, descontraído, porém, isso não é possível. A possibilidade do Brasil – ou melhor, do Rio - sediar os Jogos Olímpicos de 2016 está me deixando preocupado. Como cidadão brasileiro, não posso abster minha opinião contrária diante de um evento caríssimo e suntuoso, em vista de um país com necessidades que urgem a serem resolvidas e que deveriam ser a prioridade.

R$ 42 milhões, é o valor que deve ser gasto somente com publicidade

O Comitê Olímpico Internacional divulgou sexta-feira (13/02) a estimativa de gastos para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 das cidades que ainda estão no pleito (Rio, Madri, Tóquio e Chicago). A cidade do Rio de Janeiro tem o maior orçamento, prevê um gasto total de R$ 29,5 bilhões, que foi garantido a ser desembolsado, na integra, pelo governo brasileiro. Quer dizer, por nós, meros pagadores de impostos. Valor esse, quase cinco vezes maior do que é previsto para os gastos em Madri (R$ 6,5 bilhões).

Entretanto, mesmo depois de investir tanto dinheiro no Pan-americano, em 2007, teremos que gastar mais ainda. Onde está o legado do Pan? As melhorias estruturais da cidade? Se houvesse mesmo benfeitorias decentes, com certeza, a previsão de gastos seria menor. Até mesmo o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou que o legado do Pan é mera fantasia, em entrevista concedida ao canal de televisão ESPN.

Lula não confia nos organizadores do Rio 2016, porém, apóia a candidatura

Os gastos:
Tóquio estima gastar R$ 17,5 bilhões; Chicago R$ 10,8 bilhões e Madri R$ 6,5 bilhões. Somando os valores previstos para serem gastos nestas cidades, resulta em R$ 34,8 bilhões.
Agora os gastos do Rio: R$ 4 bilhões gastos no Pan, mais R$ 29, 5 bilhões previstos para as olimpíadas, total R$ 33, 5 bilhões. É quase o valor da soma de todas as outras candidatas aos Jogos Olímpicos de 2016.


E se a crise vir a afetar com intensidade o Brasil, assim como aconteceu com alguns países em desenvolvimento, por exemplo, a China? Vamos desembolsar todos esses bilhões mesmo? Logo agora que conseguimos juntar um ‘dinheirinho’ e estabilizamos o país.
Nossos concorrentes à sede olímpica (EUA, Espanha e Japão) são países desenvolvidos, que têm ótimos dados sociais, boa distribuição de renda e a situação financeira estável; fatos estes opostos a da realidade brasileira. Por isso, creio eu, que antes de pensarmos em gastar milhões e milhões em construções de instalações esportivas, deveríamos investir esse dinheiro em nossa população, na construção de: escolas, creches, hospitais, postos médicos; estruturas úteis e essenciais para melhoria da vida de todos os cidadãos brasileiros.


Dados alarmantes:
O Brasil tem o segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul, segundo dados do IBGE de 2006, aproximadamente, 14 milhões de pessoas.
Os dados da miséria também são alarmantes, 42,2 milhões de brasileiros, no ano de 2004, eram considerados miseráveis, conforme dados da Fundação Getúlio Vargas.
Há falta de profissionais na área de saúde em 455 cidades, isso quer dizer que nessas cidades não há médicos, enfermeiros e nem agente de saúde. Esses dados são do Cadastro Nacional do Estabelecimento de Saúde, que é ligado ao Ministério da Saúde.

“O Pan foi um aprendizado para a realização das olimpíadas”, é o que dizem os organizadores. (E que aprendizado!) Um evento desastroso, com gastos desvairados.
O orçamento para o Pan era de ter um gasto em torno de R$ 414 milhões, entretanto, houve um pequeno erro nas contas, mas nada muito alarmante, o gasto foi dez vezes maior do que o previsto no orçamento inicial. Foram gastos quase R$ 4 bilhões.

O Rio 2007 foi o aprendizado para o Rio 2016. Fico receoso só de imaginar

A construção do Estádio Olímpico João Havelange, mais conhecido como Engenhão, foi orçado em R$ 60 milhões. Quando o estádio ficou pronto, os gastos já superavam os R$ 400 milhões.

A bela imagem noturna do Estádio Olimpico João Havelange, ou Engenhão


Constata-se que realmente os administradores que fizeram as previsões de gastos, têm um sério problema com a calculadora. Analisando esses números, podemos tirar duas conclusões: ou houve péssima administração, com um planejamento inaceitável ou então corrupção exacerbada -o que não seria difícil tratando-se do Brasil.

É sempre bom lembrar que os administradores do Pan, são os mesmos que irão reger as olimpíadas (se o Rio for eleita à cidade sede) mesmo depois de mostrarem um despreparo total em realizar eventos dessa magnitude. (Que contradição!)

Foi criada uma CPI para investigar os gastos do Pan em 2007, porém, por enquanto nenhum resultado foi obtido –Hunn, que cheiro de pizza.

E a opinião dos brasileiros? Pelo menos com quem eu converso, vejo apoio total (euforia!) e estão achando tudo muito bonito. Mesmo depois de tanto dinheiro mal gasto no Pan e um péssimo resultado para o próprio esporte brasileiro, que ainda vive aos trancos e barrancos (alguns atletas não tem nem lugar para treinar. Um verdadeiro semi-amadorismo). Muitas dessas pessoas a favor das olimpíadas utilizam da mesma desculpa famigerada: “esse dinheiro que será investido, retornará por meio do turismo”, o pior de tudo é que elas falam sério.

Se Deus é brasileiro, assim como diz o filme, no dia 2 de outubro -dia do anúncio da sede dos Jogos Olímpicos de 2016-, o Rio de Janeiro não ganhará esse pleito.

O filme diz que Deus é brasileiro. Espero mesmo que seja